Hamburgo é encantadora! A força do verde em suas ruas de paralepípedos ou nas grandes avenidas arrasa todos os sentidos, obrigando os olhos a seguir o verde que tenta rivalizar com o azul do céu que fura as camadas de finas folhas, mesclado com o colorido das nuvens que passam sem qualquer pressa, mudando seu tom de cores conforme os raios de sol as lambem como se fossem algodão doce...
O outono é excepcional, a folhagem cai forrando as calçadas que se tornam vermelho douradas, as folhas rodopiando ao redor dos pés que passeiam preguiçosos metendo-se por entre o castanho dourado, vermelho ocre, verde bronze e outros tons até difíceis de nomear...
E as águas que estão por todos os lados marulham nos ouvidos, movendo-se em ondas suaves pelos canais, passando por debaixo de pontes, pequenos túneis, desaguando no grande lago e no rio, sussurrando um convite explícito para serem seguidas, navegadas, para serem admiradas, cheias de mistério, cheias de encanto, cheias de estórias que flutuam nas cristas das pequenas ondas que batem nas praias de areia ou de pedras que as cercam, limitam, que a corrente a procurar o sal do mar para temperar-se, para expandir-se e tomar conta do mundo!
E, as pontes se contam aos milhares, de todos os tipos e estilos, antigas e modernas, pequenas e grandes, majestosas e simples, algumas apenas para passagem, outras com pequenos restaurantes e cafés, ostentando balustradas trabalhadas ou espartanas... sempre ligando, sempre conectando os lugares, as pessoas, as vidas que as enchem de vida!
Os antigos edifícios conservados, os armazéns centenários com seus tijolos expostos, as igrejas com seus sinos melódicos espiam as pessoas do alto de sua enorme longevidade e parecem sorrir condescendentes para as “crianças” que passeiam por entre eles lhes enviando olhares admirados, como se não conseguissem acreditar ver tanta beleza tão bem tratada!
As jovens casas na beira do lago, brancas, grandes, relvadas, com seus barcos de velas coloridas ancorados nos molhes, com seus bancos à beira da água mansa que permite molhar os pés, com avós e netos que brincam envoltos pela brisa suave com cheiros de verde, azul, dourado, doce e apimentado, conseguem transformar sonhos em momentos de felicidade que a lembrança vai guardar com amor!
O enorme edifício construído sobre uma ilhota de cimento na beira do rio é um navio pronto para zarpar, seja para velejar com o sol a pino, vetos calmos e águas preguiçosas, seja desafiando as grossas nuvens de chuva que se formam para chicotear com gotas cristalinas de água cada canto, cada esquina, cada meandro da grande cidade, açoitando guarda-chuvas, molhando os desavisados, encapelando o caminho do rio, correndo para oeste, empurrando transatlânticos, cargueiros e barcos para o mar!
Tudo tão fascinante, tão inesquecível, tão cheio de sabores, cores, sensações que acabam conduzindo para o lugar mais prosaico e mais cheio de magia que poderíamos encontrar em Hamburgo... a ondulante escadaria do porto!
Os claros degraus que serpenteiam pelo porto turístico, conduzindo todo tipo de sonhadores e céticos que andam pela passarela acima em busca dos barcos de turismo, barcos de transporte, veleiros, pesqueiros, navios à vela, navios museu, barcos ao estilo Mississipi, barcos de modernidade futurística, barcos com casco dourado... ou procuram um café, uma cerveja, um bom lanche ou refeição, um souvenir, tudo ali ao alcance da mão... talvez procurem também o túnel para atravessar para o outro lado do Elba e ver a cidade de um ângulo oposto...
As escadarias parecem ter um propósito... primeiro hipnotizam, descobrem o que você foi fazer ali e te mostram algo completamente diferente, oferecem uma nova opção que você sequer imaginava estar ali te esperando! A ondulante escadaria parece sorrir, convidar, aconchegar se você parar e se sentar em um dos seus degraus... parecem ter vida, parecem querer te seduzir de tal forma que você simplesmente se entrega, se perde, se apaixona... e quando percebe, a magia que ela destila já tomou conta de você e não existe mais nenhum outro lugar onde você precisa estar, precisa sempre voltar!
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