quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Recado a Nisia Maria

Esta crônica foi publicada no Jornal A Tribuna, no dia 18 de julho de 1991, na coluna Gente e coisas da Cidade, escrita por Lydia Federice. Naquela ocasião, meu nome de guerra na Ultrafértil era Nisia Maria. Foi uma boa época e conhecer a Lydia foi genial!


"Recado a Nisia Maria

No final do ano passado - ou começo deste - precisando fazer um levantamento com os possíveis locais - ainda desconhecidos ou não visitados pelos andarilhos do Grupo Enguaguaçu, lembrei de um lugar realmente maravilhoso. que, meses antes, com minhas companheiras do MAF, eu conseguira obter licença para alcançar. E, acompanhadas por monitores do grupo ultrafértitil, visitar.

Você conhece um pouco da região em que nasceu? E, por onde pouco a pouco, se foi expandindo o grande parque químico industrial de Cubatão. Pois lá, um pouco além ou aquém da Cosipa, fica a Ultrafértil, num mundo de chão em que se situa a indústria, onde se espalham seus depósitos de matéria prima e da já processada, corcoveando por colinas, afundando-se num vale que recolhe as águas que escorrem das encostas dos morros da Serra do Mar - ali pelas proximidades do Rio Moji - ou lhe estarei trocando o nome? Foi construído um parque de recreação e lazer. Com quiosques, caminhos, canteiros, gramadões inclinados que, até às senhoras que já passaram dos 22 anos, dão vontade de rolar, entende como é?

Pois bem.

Como por ali, por ocasião das grandes chuvaradas de março, rolavam da Serra troncos de árvores, pedras, uma enxurrada de terra que os deslizamentos haviam desnudado, os assustados ecologistas, os homens da Guarda Florestal, engenheiros, resolveram aproveitando a  topografia do vale, construir represas. E isso, por ser necessário, claro que foi feito! Cuidando-se ainda de, não só dar atençao à parte funcional do imenso trabalho de contenção dos detritos. Mas, a de criar, ao mesmo tempo, um visual de grande beleza!

Feitas as represas, em três níveis, a coisa ficou tão bonita, mas tão bonita, mas tão bonita mesmo, que não havia funcionários da Ultrafértil e não havia grupos de visitantes que não quisessem, aos domingos, ir até lá curtir as  facilidades do parque de recreação. E a beleza do local! Com a serra vigorosa, vizinha, mandando todo seu verdor aos necessitados de oxigênio

Conseguimos, sem problema maior, a  não ser o de escolher a data, marcar  a caminhada. Que, infelizmente, pouco depois teve de ser modificada, porquanto novas chuvaradas haviam arrastado morro abaixo, os jardins. Depois, fagulhas de um churrasco, deram cabo dos quiosques. O horto sofrera  muito. Tudo teria de ser refeito. Isso demamdaria tempo. Bolas!

Se desistimos? De forma alguma. Andarilho é persistentel. Quando cima com algo vai cavando terra, aterrando buracos, demolindo problemas. E, com paciência, chega ao que quer. Desde que, bem entendido, a outra parte não resolva roer a corda.

Pois bem.

A caminhada sonhada ficou à espera. Nada dava certo. Se a Ultrafértil já conseguira voltar a embelezar suas represas, o Grupo dos Andarilhos é que  enfrentavam um novo problema.

Mas depois de muito tempo em contato, uma de suas relações públicas  - também muito persistente - resolveu procurar a coordenadora do GAE - no caso, eu. Não foi fácil, mas ela conseguiu. Por  obra de um acaso difícil de esperar e compreender, a Lydia que ela conhecia se encontrava justamente naquela tarde, em seu primeiro dia de molho, na Santa Casa. E daí? encontramo-nos via telefone. Ela, desmontada pelo improviso, e, eu, arrasada por aquele contato estar acontecendo de forma tão ridícula. Onde se viu uma coordenadora andarilha não entender nada de nada? E sentir-se mais morta que viva?

- Vocês ainda querem visitar as represas? 

- Ora. E não? Assim que possível.

- Dona Lydia, perdoe importuná-la, tirando-a do sossego do hospital, falou, querendo desculpar-se. 

Ora! Desculpar-se? Então aconteceu uma coisa que me fez sentir o quanto eu precisava dos amigos: encostei a cabeça à quina da parede, do grande hospital, de onde, ainda naquela manhã, eu quisera fugir. Pensei em Cubatão. Na moça que de lá me ligara. Aprumei a cabeça. Senti uma força verde endireitar-me o ombro dobrado. E, para que ela soubesse o quanto me  ajudara, eu lhe disse:

- Seu telefone foi como uma rajada de vento molhado das montanhas da Serra. É muito bom. É como se eu pudesse estar aí, sabe? 

Pois é. E, é assim mesmo!

Obrigada, Nisia Maria"


Um comentário:

dio disse...

Oi Ni....
que lindo isso!
belo depoimento..
Bhus
DIo

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