...As ruas ainda se desmanchavam entre neblina e orvalho quando saímos. Os lampiões das Ramblas desenhavam, ao piscarem, uma avenida de vapor, enquanto a cidade se espreguiçava...
... diante de nós erguia-se o que me pareceu o cadáver de um palácio abandonado, como um museu de ecos e sombras...
... entramos... uma penumbra azulada cobria tudo, insinuando apenas os traços de uma escada de mármore e uma galeria de afrescos repleta de figuras de anjos e criaturas fabulosas.
Acompanhamos o vigia através daquele corredor palaciano e chegamos a uma grande sala circular, onde uma autêntica basílica de trevas jazia sob uma cúpula esfaqueada por focos de luz que desciam desde o alto.
Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros se erguia da base até a cúspide, desenhando uma colmeia em cuja trama viam-se túneis, escadas, plataformas e pontes que deixavam adivinhar uma biblioteca gigantesca, de geometria impossível. Olhei para meu pai boquiaberto. Ele me sorria, piscando o olho.
- Daniel, bem vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos!"
- Daniel, bem vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos!"
Pura poesia... um pequeno trecho de A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón. É um contador de estórias de mão cheia, delicioso de ler, que situa seus personagens na Barcelona do começo do século 20. Vale cada parágrafo!

Nenhum comentário:
Postar um comentário